quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Memórias que a vida conta...



Guardava umas lembranças antigas e amareladas, de menina; como a avó no velho piano, a mãe na cozinha preparando bolinhos, ou o pai na velha cadeira de balanço lendo o jornal enquanto Dick, o velho viralatas cego de um olho, cochilava ao lado. Não que não houvessem memórias recentes e toda uma história a ser contada, tantos enredos anelados que... Ela nada diz, nada sabe, apenas seu olhar vagueia numa tela nua. Dizem as más línguas que o marido fugiu com a bilheteira morena da estação de trens, nisso já se vão muitos anos, e que o único filho, cedo, deus levou. Desde então, ela pintou a vida de branco. Desses brancos de anúncio de sabão em pó misturado com alvejante. E do outro lado dessa cortina, o desenrolar de uma vida de noventa e dois anos é como um roteiro apagado, em um filme antigo e sem cor...


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